sábado, 30 de maio de 2009

Errar é humano... Mesmo!




I'm not calling for a second chance,
I'm screaming at the top of my voice.
Give me reason but don't give me choice.
'Cause I'll just make the same mistake again.


Começo a escrever esse texto com certo receito dele descambar para a auto-ajuda, o que abomino extremamente. De qualquer forma, acho válido algumas ponderações sobre um assunto interessante: o que gostaríamos de ser e o que – de fato – somos.
É importante ter como meta o aprimoramento pessoal. Seja no campo moral, no comportamental, é desejável que se busque a cada dia ser um pouco melhor que o dia anterior. Mas até que ponto podemos melhorar?

O tímido pode realmente se tornar uma pessoa extrovertida, capaz de conversar com desconhecidos com desenvoltura, se aproximar do sexo oposto sem qualquer receio... O mal caráter pode, de verdade, ser corrigido? Pode se tornar uma pessoa capaz de viver em sociedade sem procurar tirar vantagem do próximo? Pode o ser humano realmente mudar? Não sei. Não escrevo esse texto pra ajudar ninguém, estou aqui mais pra confundir que pra explicar.

O homem, no que tange suas capacidades científicas, de criar, recriar e desenvolver, tem se aprimorado dia a dia. Aquilo que chamamos de progresso na da mais é que a prova viva da capacidade que o homem tem modificar o meio em que está inserido para que este esteja adaptado às suas características.

Mas não é desse tipo de progresso, ou mudança, que faço aqui. O que está sendo abordado nessa postagem é algo mais intimista, mais pessoal, que envolve a relação não do homem para com o seu meio, mas dos homens entre si. Da capacidade do ser humano em viver em sociedade de maneira cooperativa, sem deixar de lado um dos nossos traços mais marcantes: a competição.

Buscar o melhor pra si, sem prejudicar o próximo é um dos estágios mais avançados que uma civilização pode alcançar. Obviamente estamos longe, muito longe de qualquer patamar que se aproxime desse ideal. De qualquer forma, é confortável pensar que estamos, talvez, caminhando nesse sentido. Só que se a ignorância é a mãe da felicidade, esse conforto não lá muito bem embasado.

Pessoalmente tenho a impressão de errar hoje mais do que eu errava quando era mais novo. Não sei se é a percepção do que é certe e do que é errado que ficou mais apurada ou se, de fato, eu estou num processo regressivo. De qualquer forma tenho pagado o preço desses erros. O que nunca é agradável. Então, respondendo a pergunta levantada aqui, se estamos ou não evoluindo: não sei.

Não tenho a mínima idéia. Aliás, mesmo se tivesse, jamais teria a pretensão de responder por seis bilhões de pessoas Agora respondendo por mim, eu acho que não. Queria estar caminhando em direção ao tal do nirvana, mas não estou não. Além de cometer os mesmos erros over and over and over, tenho encontrado novas falhas pessoais que antes não fazia idéia que existiam.

De qualquer forma, o fato de eu sofrer um bocado com isso seja um sinal positivo. Sei lá.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A maior volta por cima da história do esporte


Não, não estou falando de Ronaldo e suas idas e vindas com o sucesso e o bom futebol. Também não estou falando da Maurren Maggi e sua fantástica medalha de ouro nas olimpíadas de verão do ano passado. O brasileiro aqui em questão se chama Hélio Castroneves e venceu hoje, pela terceira vez, a mais tradicional prova do automobilismo de todo o mundo: as 500 Milhas de Indianápolis.

Há cerca de 3 meses Hélio, que é natural de Ribeirão Preto, sua irmã e seu advogado eram julgados nos Estados Unidos por 7 crimes de, entre outras coisas, evasão fiscal, sonegação de imposto, conspiração e crime contra a economia pública. Se fosse considerado culpado em todas as acusações ele poderia pegar trinta e cinco anos de cadeia.

Dá pra imaginar que a vida de um dos pilotos mais famosos nos Estados Unidos ficou de cabeça para baixo. Não só isso, a imprensa, de um modo geral, tanto lá como cá, não hesitou em tomar a posição de juiz e considerá-lo culpado antes que qualquer decisão, de fato, fosse ordenada pelo juiz. Revistas americanas o colocou entre os 10 maiores sonegadores de todos os tempos, ao lado de pessoas como Al Capone.

O dia do julgamento veio e, uma a uma, as acusações foram caindo terra. Hélio foi considerado inocente em todas as acusações. Surpresa para muitos e um renascimento para ele. Foram quase seis meses entre a denúncia e o julgamento. Hélio viveu dias de angústia, dias em que teve que comparecer ao tribunal algemado nas mãos e nos pés. A Penske, sua equipe na Indycar, já o considerava carta fora. Um substituto foi inscrito em seu lugar e o mundo seguiria rodando e Hélio seria esquecido por todos.

Mas o mundo dá voltas e essa foi particularmente espetacular. Hélio, agora inocentado, tomou seu lugar de direito na equipe mais tradicional dos Estados Unidos e chegou com gana de vitória, vem maio e ele grava nada menos que o primeiro tempo na Indy 500. Só que ele é predestinado, dizia que a vitória seria dele, tinha carro pra isso e tinha braço pra isso.

E venceu. Venceu com sobras venceu como só vence que sabe muito bem o que fazer naquelas duas milhas e meia que tem o circuito de Indianápolis. Não foi uma vitória emocionante se considerarmos a corrida em si apenas Hélio era tão superior a todos que nas últimas 20 voltas das 200 no total ele apenas se preocupou em não cometer nenhum erro, visto que seus adversários mais próximos digladiavam entre si.
Foi mais que uma vitória de um piloto em uma corrida. Foi a vitória de um Homem sobre a vida. A vitória de alguém predestinado que não deixou de acreditar que venceria todos os desafios que foram impostos a ele. Mesmo quando ele e sua família eram os únicos que acreditavam em alguma coisa.

Hélio é hoje o mais feliz dos homens e tem todo o mérito de ser. Agora são três vitórias na Indy 500, que somada as outras duas de Emerson Fittipaldi e a de Gil de Ferran,deixa o Brasil com seis triunfos no lendário autódromo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mas isso tem hoje a menor das importâncias.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estação Ferroviária de Araraquara

Injuriado por não ter conseguido mais um emprego e sem saco pra voltar pra república resolvi passar na estação de trem daqui de Araraquara.

Moro nessa cidade a cinco anos e jamais tinha passado por ali. Mesmo sabendo que todo o crescimento dessa região se deveu à construção da Estrada de Ferro Araraquarense, que já foi uma das mais importantes da América, e hoje está resumida a um empilhado de moveis jogados em uma sala, visitados apenas pelo pó, que o tempo, impiedoso como só ele é, insiste jogar cada vez mais no esquecimento a história que cada vez menos pessoas sabem contar.



Mas nem tudo é estrago. A primeira impressão que tive ao chegar ao local foi boa. A faxada está muito bem preservada, é fácil ver que provavelmente passou por algum processo de restauração recente, dando nova vida e brilho à pintura e a toda a arquitetura exterior. O problema mesmo está na parte em que os olhos não vêem, a não ser que você entre por lá.



Permaneci no local por cerca de 40 minutos, tirando fotos, observando os detalhes dos imóveis antigos escondidos em uma sala qualquer, vendo o maquinário férreo ali parado e nesse tempo todo apenas três pessoas estiveram no local além de mim: uma senhora que falava no telefone sem parar algo tão importante quanto meu cardápio do almoço de hoje, um senhor que alinhava seu relógio com o da estação (muito bonito por sinal) e um funcionário da empresa America Latina Logística que conferia os vagões cargueiros que usam os trilhos. Aliás, a ALL parece ser a única entidade que sabe do valor econômico que um transporte férreo tem. Pena que seus interesses na parte história não sejam os mesmos.



Bom, já dentro do recinto, a primeira coisa que realmente me chamou a atenção foi o tal do relógio que fornecia às horas ao senhor supracitado. É um relógio muito bem preservado, provavelmente do início do século com os números em algarismo romanos, ponteiros meio góticos mas de uma aparência bastante clássica de um modo geral. Redondo, com as extremidades de ferro. Você provavelmente já viu vários desse tipo em filmes americanos... ao vê-lo não pude deixar de me lembrar do filme Back to the Future, daquele famoso relógio que foi vítima de um raio.



Andando mais um pouco pude ter uma visão mais melancólica. Um carrinho daqueles usados para carregar as malas mais pesadas estava jogado num canto mal tratado pelo tempo e por todos aqueles que o julgaram inútil. De cor verde, feito de ferro ele tem tentado resistir ao tempo e embora possa ser possível observar algumas ferrugens na parte inferior, diria que ele tem feito um bom trabalho na sua empreitada de resistência. Não sei de época ele é, de coisas antigas eu gosto mais que entendo, mas diria que facilmente ultrapassa os cinqüenta anos de fabricação.



Quando acabava de tirar as fotos desse carrinho um apito forte, agudo, me adentrou os ouvidos, forçando meus olhos na direção de sua origem.

Era um trem cargueiro que lenta e silenciosamente deslizava sua silhueta pelos trilhos. Passaria desapercebido por mim não fosse o sinal sonoro que tinha emitido. Corri para o para-peito como um menino bobo para ver algo fantástico que poucos conseguem perceber. Engraçado que nesse momento eu me senti realmente criança. Lembrei imediatamente da minha infância, do meu ferrorama ganho de Natal que durou não mais que três meses, vitima da minha inconsciência e descaso, logo esquecido em razão de um brinquedo novo qualquer.



O trem do lado esquerdo estava parado, numa manutenção que provavelmente já durava alguns anos e, com alguma certeza, posso afirmar pelo que vi em seus detalhes, que muito dificilmente voltará a ser útil. Temo que seu destino esteja, de algum modo, atrelado ao carrinho de malas de alguns parágrafos atrás, com agravamento de que este trem não parece ser tão resistente às intempéries do clima.

Ao ver esse trem parado eu pude perceber que mais lamentável ainda que seu estado, era a situação do trilho que ele estava colocado. Então pude ter certeza que tanto o destino do trem, quanto o do trilho estavam determinados: a inutilidade pétrea. Não tenho muito o que falar, nem todo meu vocabulário explicaria melhor que a foto abaixo. O mato já tomava conta de tudo, impedindo, mesmo que o trem voltasse a funcionar, que ele saísse dali. Seria necessário um trabalho por demais dispendioso para que qualquer coisa fosse feita nesse sentido.



E assim acabei meu breve passeio à estação de trem da Estrada de Ferro da Araraquarense. Desliguei minha máquina, virei o rosto em direção ao meu carro e segui pra minha casa, já me esquecendo da estação, que ficará lá, esquecida por todos que mal sabem da importância daquilo para a região e para todo o estado de São Paulo. Poderia entrar aqui em detalhes econômicos sobre as milhares vantagens que o transporte de trem tem sobre o rodoviário, tanto de produtos quanto de pessoas, mas deixa isso pra uma outra hora, fiquemos hoje apenas com as lembranças.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Encontros e despedidas


Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero


Em cinco anos de faculdade eu já coloquei os pés nessa rodoviária da foto incontáveis vezes. A primeira vez, ainda me lembro como se fosse hoje de manhã, foi em 2005. Primeira semana de faculdade, finalmente tomando um rumo na vida etc... Hoje, 2009, ainda continuo procurando um rumo na vida, mas a sensação de chegar nesse lugar mudou. A hora de voltar, pra casa, pro falso conforto, pro conhecido, era meu alvo. Hoje luto pra arrumar motivos pra ir embora. Não que Araraquara seja uma cidade perfeita, chega a ser cômico pensar nisso, mas é que num determinado momento da vida qualquer lugar é melhor que a casa dos pais.

Com o passar dos anos andei reparando nas pessoas que freqüentam esse recinto. A heterogeneidade é absurda. O retirante chegando para cortar cana, o executivo indo para a Capital, o estudante chegando com abrigo da faculdade, os velhos indo consultar em algum lugar que prolongue suas vidas... Vários os tipos. Todos com algo em comum: ninguém queria estar ali.

Quem vai já queria ter chegado e quem chegou não vê a hora de ir, ou pra casa ou embora de novo.

Andar em um ônibus e ser levado, sem controle da situação, de um lugar para outro é deveras angustiante. Diferente de viajar em uma moto, com o vento na cara, sendo capaz de decidir cada acelerada e cada freada do caminho, em um ônibus você é refém dos devaneios do motorista que acelera e freia ao seu bel prazer. Nada depende de você, seu trabalho é apenas assistir às placas passando ao lado da estrada.

Acho que a vida é meio assim também. As vezes o que a gente quer é ser o cara da moto, daquela Harley Davidson 42 WLA que queima o asfalto como quer, sem dar satisfação a ninguém. Mas sabemos que a maioria de nós jamais será algo além de um passageiro de ônibus, cuja única opção é escolher a poltrona que irá sentar; resumido a torcer para que o motorista o leve ao destino pre-estabelecido da linha.

Faz parte da vida, nunca as coisas são ideais, mas isso não quer dizer que devamos parar com nossas ilusões. Afinal, enquanto houver Sol...