quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Eu e as corridas

Se tem uma coisa que eu gosto nesse mundo, mais que lasanha e strogonof, são corridas de carros. E não é só de Formula 1 que eu to falando, é de tudo que é motorsports, e aí inclui-se desde categorias famosas como a própria Formula 1, até outras bizarras, como corridas em ovais de terra nos Estados Unidos em que correm os chamados Sprint Cars, mas que na verdade não passam de gaiolas motorizadas. Só doido corre, mas é divertido pacas.

Esse meu gosto por corridas já me fez entrar em algumas enrascadas... Certa vez, no alto dos meus 13 anos, estava eu e um grupo de amigos num desses bailes do Havaí e eu estava prestes a ficar com uma menina que há tempos tentava algo. Nesse dia em especial a lua parecia estar voltada para mim e eu finalmente ia dar meus beijinhos nela. Combinei com a amiga dela para que ela me encontrasse num determinado local onde trocaríamos nossas bactérias via oral. Chegando lá eu percebo que já era duas e meia da manhã e que em meia hora a corrida do Japão de Formula 1 iria começar. Entrei em pânico.

Parênteses: (entendam o seguindo, eu não perco uma corrida de Formula 1 desde que eu tinha nove anos e tive que participar de uma competição de natação num domingo de manhã. Desde então, peremptoriamente, todos os domingos de corrida você pode ter certeza de que eu estarei devidamente prostrado à frente da TV como se daquilo dependesse minha vida).

Voltando... Comecei a avaliar a situação. Se ficasse lá, ganharia um beijinho de uma menina bonitinha, com sorte até uma mão boba aqui outra ali. Por outro lado, se fosse embora veria uma corrida de Formula 1 que tinha de tudo pra ser... chatíssima.

Além da eterna esperança de ver o Barrichello (nessa época ainda na Stewart) meter o sabugo no xarope do Michael Schumacher. Avaliada a situação, tomei uma decisão que ao meu modo de ver foi a mais sensata possível: sai de lá correndo, peguei o primeiro taxi que vi e cheguei em casa à tempo de ouvir as reportagens da rádio Jovem Pan AM que sempre começavam antes das transmissões da Globo.

A corrida em si foi super chata e nada do Rubens atropelar o Schumacher como eu sonhara. Mas tudo bem faz parte do esporte. Nem liguei. Acabou a corrida, entrei em alguns sites de automobilismo pra ler as análises dos entendidos no assunto e fui dormir. Crente que tinha tomado uma decisão correta. Afinal corridas são apenas 17 por ano, fins-de-semana com festa são quarenta e poucos. Não me faria falta um beijinho a mais, outro a menos.

Só que eu não sabia o que havia desenrolado naquela festa após minha ausência. A menina havia chegado ao local e, ao não me ver, decidiu como boa donzela que era, me esperar lá. O problema é que uma briga, nas palavras do meu amigo, descomunal, se iniciou exatamente onde ela me aguardara. Os motivos da briga eu nunca soube, mas o problema foi que em determinado momento, uma pedra voou de um ponto de origem qualquer e acertou exatamente a cabeça da menina! Sim, além de ela tomar um bolo de um idiota que preferiu ver 22 homens dar volta em uma pista, a coitada ainda levou uma pedrada na cabeça!

Não preciso dizer que a menina nunca mais olhou na minha cara né? Até meus amigos ficaram putos comigo e juraram que nunca mais iriam me ajudar a ficar com garota nenhuma. O mais bizarro de tudo isso é que eu, no fundo, não me arrependia em nada de ter ido embora. Pra mim, só por ter visto mais uma corrida de F-1, já valia a pena qualquer dor de cabeça que pudesse ter decorrido daquela situação.

domingo, 9 de agosto de 2009

O governador quer ser presidente e quem toma no cu somos nós...


A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim...

E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...

Sério, tá tudo cada vez mais asséptico que chego a sentir o cheiro de éter de longe. Por quê? Simplesmente porque os politicamente corretos estão dominando tudo que se vê pela frente. Diga não às drogas, não corra, não fume, não beba... Não viva!

Esse post não é uma apologia idiota às drogas, é apenas uma constatação de que pouco a pouco o que resta da nossa liberdade está sendo tragado por uma onda politicamente correta que varre essa merda de país afogado corrupção e escândalos com dinheiro público.

Vejamos: a partir de ontem o Estado de São Paulo deixou de fumar. Nosso querido imbecil governador que quer ser presidente decidiu que não se pode mais fumar em nenhum lugar que tenha parede ou teto. Em suma: bares e restaurantes, boates e qualquer coisa que fique nesse ínterim não pode mais ter fumantes.

Até antes de ontem esses recintos vinham funcionando perfeitamente, mas como o governador que quer ser presidente decidiu que precisava de alguma coisa pra chamar a atenção para si e poder usar como bandeira daqui a um ano quando ele estiver concorrendo ao Planalto, os cigarros em locais como os citados anteriormente tornaram-se proibidos.

Trata-se, sem a menor sombra de dúvidas, de uma lei fascista e autoritária. Além de completamente inútil, pois já havia uma lei federal que tratava do mesmo assunto. Como qualquer um que tenha tido uma aula de direito constitucional na vida sabe, leis federais sobrepõem leis estaduais. Assim, essa papagaiada toda é coisa de quem não tem o que fazer e não passa de demagogia barata.

Cigarros, assim como cerveja, pinga, remédios, são drogas legais. Então a proibição do uso de algum desses produtos de maneira arbitrária não pode ter outro sentido senão a arbitrariedade em si. Todo brasileiro acima de 18 anos tem o direito estabelecido em lei de fumar quantos cigarros quiser. Até que tal liberdade seja revogada, proibir que se fume em um boteco é simplesmente ridículo.

Aliás, por mais ridículo que seja, impor tal proibição é fácil. Difícil mesmo é proibir o cigarro por completo! Por quê? Ora, amiguinhos, porque cigarros, bebidas e toda a sorte de drogas institucionalizadas geram impostos, MUITOS impostos e Estado nenhum abre mão de um centavo quando o assunto é imposto.

Como muito bem cita o colunista Flávio Gomes, “Seria muito mais honesto da parte de nosso governador que vai usar sua cruzada antifumo na campanha eleitoral taxar absurdamente o cigarro e aumentar seu preço, por exemplo. Aí sim o consumo em geral cairia, e muito — isso, sim, seria tratar a questão como de saúde pública, e não apenas como pirotecnia eleitoreira.”

Ou então, porque não dar a liberdade aos donos de bares para decidir se seu estabelecimento permitirá ou não que se fume dentro de seu estabelecimento? Seria muito mais justo e democrático. Se o Joaquim quer que seu bar seja apenas para não fumantes, que seja assim! Só entra quem não fuma. Agora, se o Manoel permite, que seja. Quem lá for já sabe que está sujeito a todos os males que o cigarro causa.

Mas não senhor, o governador que quer ser presidente quer agir como executivo federal e decidir tudo na canetada, mudando os hábitos das pessoas do dia para a noite. Claro, é mais fácil depois na hora da propaganda política.

Poucos se lembram, entretanto, que não muito longe do palácio dos Bandeirantes, há a cracolandia. Enquanto o governador que quer ser presidente proíbe o fumo em locais fechados, lá, num local muito bem aberto e à vista de todos, crianças, adolescentes e adultos continuam se acabando na pedra. Isso não se resolve na canetada. Demanda esforço, trabalho, atenção. Por isso o tal governador que quer ser presidente prefere fingir que aquele lugar não existe. O único braço do estado que chega lá e a polícia.

É simplesmente o fim da picada essa baboseira toda. Não passa de uma manobra para que o governador que quer ser presidente apareça nas “Vejas” e no “Fantásticos” da vida, com o discurso débil mental de sempre que “o Estado gasta não sei quanto com doenças pulmonares” e que “é assim no Primeiro Mundo” e que “ninguém é obrigado a respirar a fumaça dos outros”. Claro que não é. É só procurar lugares exclusivamente para não-fumantes. Que jamais irão existir. Só mesmo se a lei obrigar.

Agora, proíbem-nos de beber, de fumar, de correr. Só que podiam também proibir que fôssemos roubados, seqüestrados, ferrados... Mas isso continua a mesma coisa porque, assim como essa lei anti-fumo, não é com uma canetada que se muda a cultura de um povo, como não é com lei que se muda a sensação de insegurança que qualquer um tem ao andar sozinho a noite em uma grande cidade.

Mas claro, com isso o governador que quer ser presidente também não se interessa.

Em tempo, eu fumo pra caráleo e se eu quero morrer de tanta fumaça no meu pulmão o problema é meu e só meu. Governo nenhum tem nada a ver com isso. Tenho meu plano de saúde pago todo mês para isso.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Brincando de gangorra...



Spent for a beer his trinket
Won by a gambler's lust
Pierced by an outlaw's bullet
And found in the blood red dust
One silver dollar

E o dólar não pára de cair! Hoje desceu para a cotação mais baixa em dez meses: 1,89 reais. E a tendência é que isso continue mesmo, a moeda americana tem hoje a força de um Hancock com gripe suína, assim como a própria economia americana, que vem numa depressão danada. Tadinhos...

A moeda chinesa (cujo nome esqueci) e o Euro são hoje moedas muito mais interessantes do ponto de vista do mercado que o dólar, que ainda é usado como referência pelo que resta de poderio econômico americano e por ser uma prática já tradicional dos mercado. Precisa-se ter uma moeda que sirva como parâmetro para as outras, então na ausência de outra melhor, vai tu mesmo...

Agora, pra quem exporta isso é uma merda sem tamanho. Aqui no Brasil quem produz só se ferra: os impostos são altos, os juros para crédito são impraticáveis, a quantidade desses mesmos créditos é limitada e, pra completar, não temos infra-estrutura adequada para que o cara que mora lá onde Judas perdeu as botas consiga fazer com que as laranjas que ele planta cheguem até o porto de Santos em segurança. Depende-se muito do transporte rodoviário que é caro, perigoso e trafega em estradas tão horríveis quanto às ruas da minha cidade.

Enfim, uma merda sem tamanho.

Mas então, é ruim o dólar tão desvalorizado assim porque o produto feito aqui, com custos em reais, é vendido no exterior em dólar. Então, se o real está desvalorizado face à moeda americana, fica mais barato produzir aqui, deixando o produto nacional em posição mais competitiva em relação ao seu concorrente estrangeiro. É por isso que governos como o japonês e o chinês se recusam a deixar que suas moedas flutuem à mercê do mercado. Pra eles não interessam que suas moedas fiquem valorizadas. Afinal, ainda hoje, o mercado americano é extremamente importante Em outras palavras: eles consomem pra caraleo.

Só que assim como tudo na vida, há um outro lado: não é interessante também deixar o dólar nas alturas. Por quê? Primeiro que o Brasil tem boa parte da sua dívida externa atrelada ao dólar. Então se essa moeda sobe o preço da nossa conta à pagar sobe junto. Aí já viu... Segundo que as empresas também têm dívidas em dólar. Por quê? Porque o crédito no Brasil é difícil de ser conseguido, o que faz com que elas busquem empréstimo no exterior... Obviamente em dólar!

É, meu amigo, não é fácil. Mas tem mais: dólar alto também não é bom porque essas empresas precisam investir e os maquinários são, invariavelmente, feitos no exterior e negociados em... Dólar...
Já viu onde vou chegar né?

Enfim, o dólar estar caindo é legal porque mostra que a econômica brasileira está, como diz um amigo meu, parruda e não tem sofrido tanto quanto a maioria dos países. Além disso é om porque eu posso ir no eBay e comprar um monte de porcarias e pagar barato nisso. Mas devagar no escorregador! Se cair muito, o que vai ter de fabricante de sapatos em Franca fechando as portas não está escrito...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gato Preto vs Pé de Coelho!



Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã morro e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram.

O texto acima, obviamente não é meu, é do estupidamente macabro Edgar Alan Poe, poeta americano nascido em Boston. Mas sere pra iniciar bem esse texto que trata bem... leiam e percebam por si mesmo.

E ai que é o seguinte: meu notebook queimou, meu carro quebrou, meu cadarço rasgou, meu videogame queimou e ainda por cima quebrei meu dedo indicador direito ao levantar um móvel da sala (don’t ask how), o que torna o ato de digitação incrivelmente doloroso!

A zica me acompanha meus senhores! Devo ter cruzado por todos os gatos pretos do mundo em todas as sextas-feiras da minha vida pra justificar tal coisa.

Mas não, não foi só isso! Oh não, tem mais! Sábado passado, devido a um excesso de ingestão daquela água que passarinho não bebe, que tubarão não nada, que queima e desce quente e tem nome de aguardente; eu fui para em um pronto-socorro mequetrefe de uma cidade chamada Matão quase entrando em coma-alcoólico. Ainda tive que ouvir no dia seguinte sermão do médico.

Diante de tal série de fatos inimagináveis, tomei uma decisão importante: decidi ir me benzer. A última vez que me benzi tinha cinco anos de idade e tinha ido numa viagem com meus pais à Venezuela (fazer o que eu não sei). Pesquisei por benzedeiras, nessa cidade que resido para fins educacionais, capaz de reverter esse processo de mundinga que me acompanha nessa última semana. Não tem sido fácil.

Benzedeira é uma espécie em extinção no século XXI, hoje em dia se vive a era da ciência e não há nada menos científico que uma benzedeira. Mas tenho certeza que nem o maior dos cientistas, o mais cético dos humanos explicará como pode uma sucessão de fatos como a descrita acima acontecer a uma pessoa num período inferior a dez dias!

(Dirão que se trata de coincidência! Mas não se deixem enganar! Cientistas recorrem às coincidências quando não conseguem explicar o inexplicável!).

Então para evitar que mais fatos venham de encontro a minha pessoa, como contrair da gripe suína, por exemplo, simplesmente não sairei de casa a não ser que seja extremamente necessário. Comprei três cartelas de dramins, quatro pacotes de paçoca, doze garrafas de Cotuba e mandei meu notebook pro conserto via mototaxi.

Aluguei também vários filmes, de modo que tenho preenchido minhas horas estudando para esses malditos e infinitos concursos públicos e vendo filmes. Bem mais a segunda opção que a primeira. Enfim, assisti a “Maiores de 18”, “Cloverfield”, “Encontro Marcado”, “O Gangster” e “Awake” entre ontem e hoje. Virarei um cinéfilo. "Reviews de ver" deles logo mais...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Meu amigo morreu

Hoje recebi a triste notícia: o coração dele parou. Depois de doze anos de vida e muitas alegrias juntos hoje ele entregou os pontos e partiu dessa pra melhor. Nossas histórias juntos são incontáveis. Estamos juntos mesmo há cerca de quatro anos e nesse meio tempo fui muito feliz ao seu lado.

Viajamos junto para incontáveis lugares. Sempre eu e ele. Meu fiel companheiro jamais havia pestanejado, jamais tinha sequer adoecido. E olha que nunca o mimei demais. Sempre exigi dele todas as energias, por diversas vezes ele se machucou tentando seguir o ritmo que eu o impunha. Só que sempre se recuperou e sempre voltou firme e forte para mais uma aventura.

Mas domingo ele não agüentou os longos anos de trabalho duro e esforço excessivo e exigiu seu descanso merecido. Ainda consegui trazê-lo para o conforto de sua morada, nossa morada, para que ao menos ele desses seus últimos suspiros em paz. Não sabia o quão sério era a situação, apenas hoje um especialista deu o veredicto e a notícia não poderia ser pior.

Os sinais já estavam aparecendo há algum tempo, mas eu preferi ignorá-los e fingia que tava tudo bem, quando obviamente não estava. Domingo, mais ou menos às seis da manhã, o coração dele bateu suas últimas batidas.

Terá que ser trocado a biela, o carter, as válvulas e mais incontáveis peças do motor. Em suma: meu carro morreu. Meu Gol 1.0 branco, ano 97, que sempre me levou onde quis morreu. O preço, algo entre 3.500,00 e 4.000,00 reais torna proibitivo e financeiramente inviável concertá-lo. Será trocado, assim nessas condições, por um modelo mais novo.

Mas saiba, amigo carro, que você estará pra sempre no meu coração. Rest in peace my beloved car.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cinco parágrafos antes de dormir



Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...

No começo é chato e estranho. Você não se acostuma, os outros parecem tão mais felizes, tão mais adaptados que você. Tão mais idiotas também. O tempo se arrasta e você faz de tudo para que ele voe... você quer ir embora, mas não dá, ainda não dá. Não vê graça em quase nada, afinal, mudou tudo e tudo foi substituído por coisas piores em todos os sentidos. O conforto não existe mais, o conhecido não existe mais, os seus pequenos caprichos não têm mais lugares. É tudo esquisito, você se pergunta se é isso mesmo que você queria e por diversas vezes a resposta parece ser “não”. Quer voltar ao antes, ao que sempre foi aceitável.

O tempo se arrasta, mas passa. Vai-se um mês, dois, três meses... O que era terrivelmente chato vai ficando normal. Os estranhos passam a não ser tão estranhos assim. O conforto continua não existindo, mas você não sente mais tanta falta. O antes ainda é atraente, mas ele passa a ser tão... normal. Seus caprichos? Alguns somem, outros você acha um lugar bem seu para cultivá-los. Ir embora continua sendo uma opção interessante, mas cada vez menos importante. Os outros ainda parecem excessivamente felizes, mas algumas risadas você já compartilha. Algumas histórias passam a ser suas também. Segue o seco...

...De repente, quando você acorda, percebe que aquilo se tornou parte de você. Continua sendo uma bagunça sem fim, continua sendo estupidamente esquisito pra quem vê de fora. Mas você já não está mais vendo de fora, não é mais o mesmo e compartilha muitas daquelas esquisitices. Conforto...? Pra quê? Troquei ele pela minha liberdade. Caprichos? Algum ainda se cultiva, os outros não passavam de mimos inúteis que não têm mais lugar no seu novo modo der ser. O que era chato passa a ser maravilhosamente gostoso. O tempo voa, mas você faz de tudo pra que ele se arraste segundo a segundo. Você se sente parte daquilo. Não se vê mais longe daquela estranheza toda, daquela gente diferente.

Os meses passam, os anos passam. O fim se aproxima e a sensação de que você jamais vai ser o mesmo aumenta dia a dia. Você queria voltar e começar tudo de novo. Mais uma risada, mais uma ressaca, mais uma refeição ruim. Queria ter aproveitado mais, você diz. Mas o tempo não volta, infelizmente não volta. Você se sente um idiota por ter questionado, no começo, se tudo valia a pena. Percebe que aquilo ali moldou sua personalidade de modo irreversível. Você cresceu, viu que nem tudo é do seu jeito. Nem todos são iguais e que a graça está em conviver com cada diferença e aceitar e entender que elas são estranhas pra você do mesmo modo que as suas são estranhas pra os outros. No fim você fica feliz por ter vivido aquilo tudo...

...vida em república.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

São Paulo, ah São Paulo...



I don't mind not feeling immortal
'Cos it ain't all that as far as I can tell
I don't mind not going to heaven
As long as they've got cigarettes
As long as they've got cigarettes in hell



Fim-de-semana pra lá de interessante.

Fui à São Paulo ver a corrida da Stockcar, mas como ir à São Paulo e fazer apenas o que se foi lá fazer é quase um sacrilégio, obviamente que tentei aproveitar os dois dias na capital paulista o máximo que pude. E aproveitei mesmo. Do famoso pão com mortadela mais caro mundo no mercadão municipal ao jantar na churrascaria Chão de Fogo. Finalizado por uma passada no Teta Jazz Bar pra encerrar o sábado. São Paulo é maravilhosa, mas sem grana não se faz absolutamente nada.

Por isso tenho dois objetivos na vida: pegar a grana do meu pai e me mudar pra São Paulo. (Há-Há-Há... Nossa como eu sou engraçado...)

Escreveria mais sobre essa cidade, mas pra escrever sobre São Paulo é preciso realmente conhecer a cidade.

Acordei cedo, anda como uma manhã barulhenta em São Paulo. Tomei um café da manhã rápido e sem graça no hotel e zarpei para o autódromo de Interlagos para a etapa paulistana da Stockcar. Correriam no domingo: Stockcar Jr, Nextel Cup, Copa Vicar e Pickup Cup. Como cheguei tarde e demorei ainda mais para achar o maldito portão 7, que dava acesso às arquibancadas em frente aos boxes à qual tinha direito, acabei perdendo a primeira corrida do dia. Sem problemas, as principais ainda não tinham acontecido.



As dez e pouco foi dada a largada da categoria principal, a Nextel Cup, com 32 carros na pista e quase 500 cavalos de potência em cada carro. Pra quem gosta e um prato cheio.

Parênteses: (Ver corridas em autódromo é legal, mas se tem uma coisa que aprendi nesses anos todos vendo corridas lá é que não se vê quase nada. O campo de visão da pista é bastante restrito. Como resultado eu fui entender o que de fato tinha acontecido na corrida quando vi a reprise dela no Sportv. De qualquer forma tanto a corrida da Nextel Cup, quanto as outras duas seguidas, foram legais. Valeu a pena).



Mas eu queria falar um pouco mais da cidade. No sábado de manhã (repare que o timeline do meu texto é lamentável) fui na Santa Efigênia, a Meca dos produtos eletrônicos e de informática. Acha-se de tudo lá, mas de tudo mesmo. Achei um aparelho que grava de vinil pra CD com um design todo retro muito legal, o preço, dois mil reais, é um mero detalhe... Não comprei porque era muito pesado, sabe como é...

Na volta quis passar no Ibirapuera, tava meio nublado e, como não tinha mais nada pra fazer no resto do dia (MASP tá em greve?) achei que seria uma boa deitar por lá e ler o livro do Bukowski, Crônica de Um Amor Louco, que havia comprado antes de viajar. A paz daquele parque é engraçada, você está no meio de São Paulo e ainda assim consegue escutar um passarinho qualquer balançar o galho da árvore à qual você está escorado. Claro que não dá pra ficar lá até muito tarde, mas ainda assim é legal demais enquanto dura...



Enfim, segunda-feira as 4:30 da manhã, finalizei minha estadia no hotel e voltei pra cidade onde moro. Não surpreende o trânsito na marginal Pinheiros já estava começando a engarrafar para mais um começo de semana infernal, tradicional lá. Fica a saudade e vontade de voltar em breve. Semana que vem tem mais. Mas acho que não vai dar pra aproveitar tanto já que vou apenas para uma entrevista de emprego e devo voltar no mesmo dia.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um dia feliz


Porque está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

No relógio os ponteiros marcavam quatro da tarde. O vento balançava os galhos das árvores já sem folhas que dançavam de um lado para o outro não negando que o fim de outono e o frio se aproximavam claramente. As ruas estavam mais melancólicas que o normal visto que, apesar de outono, o céu não apresentava o azul característico dessa época do ano em que o tempo fica seco e as nuvens simplesmente desaparecem.

Não, nesse dia o céu estava escuro adiantando a tempestade que vinha do norte, implacável, fazendo com que os milhões de guarda-chuvas se abrissem no centro da cidade, deixando tudo preto quando visto de cima.

Eu, que vinha do meu cursinho como qualquer outro dia, havia sido pego de surpresa pela tempestade e me abrigara em uma cafeteria de qualidade duvidosa, com piso feito de tacos de madeira velha e paredes quebradas mostrando que o tempo não havia sido nada gentil com aquele lugar. Completava o ambiente um cheiro de café feito na hora que me entrava no cérebro fazendo com que cada um dos meus neurônios se embebedasse naquela fragrância. Apenas o cheiro da chuva foi capaz de camuflá-lo. No balcão um senhor de meia idade gordo apenas olhava para fora como se contasse os segundos para que a chuva parasse e todos pudessem sair do seu estabelecimento.

Logo acendi meu Hollywood verde, companheiro de todas as horas, e comecei a observar as pessoas andando de um lado para o outro, assustadas, como se ao invés de chuva, caíssem pedras do céu. Isso tudo durou menos que vinte minutos, mas foi suficiente pra deixar todos agitados naquele fim de tarde de outono.

Assim que a chuva acabou eu percebi que era inútil correr para o ponto de ônibus, pois já o tinha perdido a algum tempo. Então decidi que iria pra casa a pé, chegaria mais tarde que o habitual, mas já naquela época não tinha vontade nenhuma de voltar pra lá. O sol que agora aparecia por entre aquelas nuvens pretas me deu a dica de que a chuva passara de fato. Aquela mistura de cores no céu que brigava entre o avermelhado normal daquela hora e o negro das nuvens chuvosas por algum motivo me fascinou. Essa mistura deixava o horizonte num tom marrom brilhante que, misturado com o reflexo da água da chuva no asfalto completava uma atmosfera meio bucólica me trazendo uma paz estranha e uma vontade de andar o mais devagar possível pra aproveitar cada minuto daquele fim de tarde.

Assim coloquei minha mochila nas costas e fui, a passos de formiga (e sem vontade), em direção a minha casa. No meu mp3 player pré-histórico tocava My Way do Frank Sinatra com uma melodia em saxofone composta por Greg Vail perfeita para aquele momento. Na minha cabeça todo e qualquer pensamento sobre qualquer coisa havia desaparecido, dando lugar a um vazio relaxante. Tudo que eu queria era apreciar aquele momento e torcer para que ele durasse o máximo possível. A felicidade realmente aparece quando a gente menos espera.

Logo meu cigarro acabou, minha música acabou, o cheiro da chuva sumiu, o sol cedeu à noite e eu cheguei em casa. Fazer o que...

terça-feira, 30 de junho de 2009

texto sem título


I guess it's time I run
far, far away
find comfort in pain,
All pleasure's the same:
it just keeps me from trouble.


(se me perguntarem não direi que estou triste) ...ai vem um filho da mãe qualquer, avança o sinal, me dá uma trombada sem precedentes em meu carro e me acusa de estar errado. Não preciso das suas migalhas meu caro, não se dê ao trabalho... Enfim, não é sobre isso que escreverei aqui. Tenho uma hora e meia pra escrever alguma coisa antes que a bateria do notebook acabe e não vou, definitivamente, perder meu tempo relatando algo que me deixa puto.

Acordei as oito horas da manhã, mandei um email para um professor a respeito do meu costumeiro excesso de faltas, criei uma justificativa qualquer e pronto. Ontem peguei minha nota de estatística e tive a feliz constatação de que aquelas intermináveis horas estudando chatices como lei de poison, boxplot e desvios padrões valeram a pena: passei nessa maldita matéria. Restam apenas três para me formar e começar a ganhar algum dinheiro.

A sensação é boa mas ao mesmo tempo é ruim. Claro que é bom ficar um pouco mais perto do meu diploma, mas é ruim porque é mais um passo de adeus a uma fase da minha vida que sentirei muitas saudades. Mas acho que lamentar não adianta em nada. Aproveitarei esse ultimo semestre que me resta como nunca e fecharei com chave de ouro meus cinco anos de faculdade. Além do mais, acho que saudade é uma coisa boa. Ter saudade significa que, na pior das hipóteses, você viveu algo bom que vale a pena ser lembrado.

Passar numa universidade pública foi a coisa mais interessante que fiz na vida (acho que já escrevi isso em algum lugar). Nunca fui do tipo que estudava, o fundo da classe sempre foi mais interessante pra mim e meus amigos sempre foram aqueles que meus pais não recomendavam que eu andasse. Aliás, acho que eu fui o tipo de pessoa que os pais dos outros não queriam ver seu filho em companhia. Coisas da vida... Voltando ao assunto, em 2004 coloquei na cabeça que tinha que estudar e o resultado foi que passei no vestibular de uma boa faculdade pública no curso de Administração. Não é meu curso dos sonhos, mas tem coisas suficientemente interessantes para eu fazer dele meu ganha pão. Além do mais as coisas que gosto realmente não são muito rentáveis e dinheiro pra mim sempre foi prioridade. Queria mesmo é ser fotógrafo, diretor de cinema ou coisa parecida. O que no Brasil é sinônimo de vida miserável.

Entre ter aulas de administração financeira e orçamentária pública e sair por ai com uma câmera na mão e uma idéia na cabeça, claro que a segunda é muito mais interessante. Mas não é assim que as coisas funcionam. De modo que não me arrependo da esterilidade do meu curso e se sempre visualizo um quadro marrom, de um filme noir qualquer, sem vida, quando penso nele, sei que as necessidades vêm antes dos prazeres.

Mas o melhor do curso pra mim nunca foram as aulas em si. O que mais sentirei saudades será dessa apaixonante e boêmia vida universitária. Passar a semana com miojo e água e gastar cinqüenta conto numa balada ficar até altas horas conversando na sala da república com os amigos, comendo azeitona em conserva e cerveja. Coisas ridiculamente simples, mas que somadas agregam um valor inestimável à vida de qualquer um. Poucas coisas na vida são tão prazerosas que voltar da faculdade conversando com os amigos, chegar lá pelas onze e meia em casa, abrir uma lata de cerveja e dormir na sala. Acordar no dia seguinte com uma puta dor de cabeça jurando nunca mais beber assim de novo, pra cerca de cinco horas depois estar num bar com os mesmos amigos tomando a mesma cerveja gelada. Alguns dirão que isso é coisa de vagabundo, devem estar certos. Mas quem se importa?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

em busca da terra do nunca


How does it feel (How does it feel)
How does it feel
How does it feel
When you're alone
And you're cold inside


Eu queria escrever um pouco sobre o Michael Jackson mas quando comecei a escrever percebi que não tinha nada a falar sobre ele não porque não gosto de suas músicas, é que quando eu comecei a desenvolver um gosto por músias que não fosse a)da Xuxa, b)da família dinossauro ou c)do Balão Mágico, ele já não era mais o mesmo Michael de outrora. Tanto que a música qu mais gosto dele é “How Does it Feel” de 1996 e a segunda é “You Rock My World” de 2002. Duas músicas legais, mas que jamais estiveram perto dos sucessos absurdos de vendagens do álbum Thriller, que vendeu mais de 100 milhões de cópias na primeira metade dos anos oitenta.

Falar sobre a pessoa Michael Jackson também é foda porque... oras... porque eu não conhecia ele. Óbvio. Se eu for me basear em tudo que ouço de terceiros é melhor nem sair de casa. Ele era um pirado? Provavelmente sim assim como 90% dessas celebridades são. O cara aos cinco anos de idade vendia mais álbuns que muitos marmanjos por aí, carregava o grupo Jacksons Five nas costas, diz a lenda que o pai abusava sexualmente dele... Como não pirar? Nada justifica as merdas dele, mas tem que filtrar também porque se tem uma coisa que as pessoas gostam é de polêmica e o tal do Michael Jackson sempre foi um prato cheio pra essas coisas.

Agora, que o cara era pirado não há dúvidas. Ele era negro, ficou branco, tinha nariz, arrancou-o fora, fez alguma coisa estranha com os lábios, afinou a voz... Se tornou uma caricatura de si mesmo. Michael Jackson é a criatura da mídia. Sua mãe de criação foi a imprensa e seus amigos de infância, os tablóides sensacionalistas. Aquele ser bizarro dos últimos anos é o reflexo da podridão que é esse meio.

Só que, independente de tudo isso, e tentando separá-lo em duas “coisas” (cantor e pessoa), quando se foca no lado artista dele o fato é que não há como negar que se trata do maior cantor pop de todos os tempos. Não só em vendagens, mas a sonoridade de suas músicas, a qualidade das letras, a melodia, a forma como ele valorizava os videoclips e até a porra do moonwalk! O cara foi um gênio da música sim e merece ser tratado como tal. Mesmo porque, tanto nego ai sem talento nenhum é elevado à condição de deus da música de uma hora para outra, porque não valorizar quem realmente tinha talento?

Agora, quanto às acusações de pedofilia e tantas bizarrisses que o cercava, não sei. Não sei se era verdade, se não era. O benefício da dúvida todos têm direito, mas de qualquer forma agradeço meu pai e minha mãe por jamais terem deixado que eu chegasse perto dele... LoL.

sábado, 27 de junho de 2009

charles bukowski e o arquivo morto



(porra, michael jackson morreu...) Sabe o que eu queria ser mesmo? Um belo de um porra loca. Não sou eu sei disso, mas puta como eu queria.

Queria me drogar todo dia, beber como um maluco, andar com gente estranha, não me importar nem um pouco com a nota em estatística que sai em algumas horas, nem com o que vou ser daqui uns anos.

Queria largar tudo e cair no mundo. Viajar, conhecer milhões de pessoas: medíocres, fantásticas, lindas, feias, boas, más. Gente. Perfeitas nas suas imperfeições.

Queria ser um Charles Bukowski brasileiro. Aliás, uma vez que mais estive próximo de ser isso tudo aí foi quando, no meio do expediente, larguei tudo, peguei um livro do Bukowski que tava lendo, peguei a chave do arquivo morto e fui lá ler o tal livro. No meio das caixas de documentos velhos, quando todo mundo trabalhava eu lia. Lia o livro de um cara doido que sempre foi um fodido na vida, mas que de alguma forma tinha conseguido ser feliz no meio disso tudo.

Charles Bikowski é o resumo de tudo que eu queria ser e não sou.

Mas aquele dia foi legal.

Acho toda essa merda de vidinha programada uma chatice sem tamanho. Você estuda pra entrar numa boa universidade, pra depois arrumar um bom emprego, pra ter uma esposa, filhos, uma prestação de uma casa legal, um carro do ano comprado em trinta e seis prestações. Você envelhece, os filhos te deixam, aparece um câncer qualquer em seu corpo e você morre. Que merda de vidinha medíocre.

Não lembro como Bukowski morreu, deve ter sido sozinho, velho e ranzinza. Uma morte boa.
Mas porra, não quero morrer ainda não... Quero viver pra caralho, quero viajar, ver coisas novas, comer comidas estranhas, sentir frio no inverno de um país qualquer, torrar ao sol de outro. Sentir na pele as coisas que fazem a vida valer a pena. Comprar um carro novo e trabalhar oitenta horas por semana pra um idiota não faz a vida valer a pena, mesmo.

pelo menos eu acho que não.

Um dos meus maiores prazeres ultimamente tem sido sair de carro a noite e andar bem devagar por aí, sem rumo. Ver a cidade escura, fria e melancólica. Mas nunca dura mais que meia hora, afinal a gasolina ta cara.

Logo volto e encontro meu dramin na escrivaninha, ao lado dos textos que li e não me lembro de uma vírgula. Quem é Sônia Draibe mesmo? Logo o sono bate, a vista fica embaçada, a mão dormente e a cama mais atraente. Santo dramin. Menos de dois reais uma cartela que me garante dez dias de sono leve e revigorante.

Me falta coragem de ser um Bukowski, me falta coragem de ser menos prosa e mais poesia.

Boa noite Shadaloo.

domingo, 14 de junho de 2009

Ruim mas nem tanto...

(Quem canta escreve seus males espanta). Antes de tudo, saibam que eu sou PTista. Votei no Lula nas duas eleições, votei em veradores do PT, votei no Suplicy e vou votar na Dilma. Então, se quer ler algo parcial vá a outro lugar. Se quer ler algo pró-Demo, vá ler a Veja ou a Folha e se não quiser ler nada, vá planar batatas. Quincas Borba te espera.

Bom, vamos lá.

A gestão econômica do governo Lula tem sido exemplar em muitos aspectos. Com exceção de 2009, em virtude da maior crise do capitalismo desde 1929, o Brasil passou por um momento raro de alto crescimento, distribuição de renda e baixa inflação. Parafraseando Lula, “nunca antes na história desse país” o Brasil viveu anos de um crescimento tão sólido em suas bases mais fundamentais. O crescimento da época do milagre brasileiro não serve de parâmetro porque foi todo fundamentado em empréstimos internacionais que foram por terra na primeira grande crise do petróleo, em meados da década de 1970. Além disso, a tese de “fazer o bolo crescer para depois dividir” se mostrou no longo prazo tão lamentável que é hoje uma cartilha de tudo que não se deve fazer em termos de distribuição de renda e crescimento sustentável. O Brasil sempre foi um país muito desigual em suas divisões de classe, mas boa parte dessa trágica desigualdade se firmou nesses anos de milagres e falácias.

Enfim, mas não estamos mais em épocas de vacas gordas. A crise dos subprimes chegou e arrastou o mundo inteiro com ela. O Brasil junto. Oficialmente estamos em uma recessão técnica visto que o PIB diminuiu por dois trimestres seguidos, logo, na teoria, não teríamos motivos para comemorar nada. Mas não é bem assim. A diferença fundamental dessa crise para outras, como a dos Tigres Asiáticos, no fim dos anos noventa e tantas outras, é que o país tem dessa vez uma base econômica muito mais sólida e preparada para enfrentar a turbulência. Assim, não é de se admirar que fomos um dos últimos países a ser afetado pela crise e poderemos ser um dos primeiros a sair dela.

Claro que muito disso se deve a uma característica interessante do atual perrengue econômico: a crise atual tem como centro países de primeiro mundo como os EUA e não periféricos como a já citada crise dos Tigres Asiáticos ou a do México ocorrida em 94. Ainda assim, é surpreendente que diante de tamanho problema o Brasil não tenha quebrado. Aliás, não só não quebrou, como não ocorreu duas das mais sintomáticas táticas necessárias ao país em épocas assim: não pedimos dinheiro ao FMI e não tivemos que elevar os juros da Taxa Selic aos céus, como sempre vinha ocorrendo em momentos dessa natureza. Pelo contrário, aliás, pelo contrário mesmo.

Foram esses dois últimos fatos que me fizeram decidir por esse assunto para postagem. Em 1999, quando a crise dos Tigres Asiáticos estourou o país teve que desatrelar o real ao dólar e correr para o FMI para pedir dinheiro emprestado porque simplesmente, caso contrário, quebraria. Não teríamos dinheiro para honrar com as dívidas que venceriam no fim do ano e a alternativa seria o calote, que é muito mais lamentável que pedir dinheiro ao fundo monetário. Como resultado, por ordens do FMI, o Brasil teve que aumentar o arrocho econômico, gerando um crescimento ainda mais ínfimo da economia que o de costume.

Além disso, outra tática básica para países desesperados em épocas de complicações econômicas é aumentar a taxa de juros básicos (que no Brasil se chama Selic) às alturas, a fim de tornar os títulos da dívida pública mais atraentes, impedindo, portanto, uma fuga de capitais ainda maior que o habitual em tempos bicudos. Isso tem dois problemas básicos: com a taxa Selic nas alturas os juros que o Brasil paga para quitar suas dívidas sobem mais ainda, além disso se torna mais rentável para investidores estrangeiros investir na nossa dívida (que paga juros absurdos) que colocar dinheiro em empresas com capital na bolsa, que no fim das contas, são as que geram empregos e renda ao país. Além de se tornar quase inviável conseguir créditos em instituições financeiras. Enfim, é um ciclo vicioso de baixo crescimento, baixo investimento e alto endividamento cujo fim é um só: estagnação econômica e desemprego generalizado.

Só que não foi isso que aconteceu dessa vez. Na semana passada dois eventos passaram despercebidos pelo grande público que mostram a solidez da economia brasileira atualmente: não só não devemos mais nada ao FMI (fato que já vinha acontecendo desde o ano passado), como nos demos ao luxo de emprestar cerca de 10 bilhões de dólares ao fundo. Isso mesmo, depois de mais de 15 anos pagando juros ao fundo, hoje somos credores dele. Outra coisa que “nunca tinha acontecido antes na história desse país” é que os juros da Selic caíram para a casa de um dígito, mais especificamente, 9,5% ao ano. Para efeito de comparação, no começo do mandato do Lula essa mesma taxa estava na casa dos 30% e o Brasil devia ao FMI cerca de 15 bilhões de dólares. É robustez econômica pra Veja nenhuma botar defeito.

Detalhes como esse mostram que, ao menos no campo econômico, o governo do PT tem sido de uma felicidade ímpar. Obviamente que não estamos imunes aos efeitos da crise e 2009 tem tudo pra ser um ano difícil. Por outro lado, desde que as coisas continuem a caminhar nesse ritmo, as chances de sairmos mais fortes e de estarmos mais preparados para um novo ciclo de crescimento são grandes. Para isso é preciso que o Estado tome as rédeas dos investimentos e caminhe com um re-aparelhamento da nossa infra-estrutura, se faz necessário, mais do que nunca, cortar gastos de custeio que nada acrescentam ao país e fazer caminhar com as reformas estruturai que emperram um crescimento mais contínuo do Brasil. É hora de colocar os ensinamentos de John Keynes em prática. Se a iniciativa privada corta gastos, é hora de o Estado abrir os cofres, mas não gastar por gastar, é hora de fazer investimentos, é hora de gastar onde os dividendos sejam colhidos quando o próximo ciclo de crescimento, inerente ao capitalismo, começar.

Veremos...

sábado, 30 de maio de 2009

Errar é humano... Mesmo!




I'm not calling for a second chance,
I'm screaming at the top of my voice.
Give me reason but don't give me choice.
'Cause I'll just make the same mistake again.


Começo a escrever esse texto com certo receito dele descambar para a auto-ajuda, o que abomino extremamente. De qualquer forma, acho válido algumas ponderações sobre um assunto interessante: o que gostaríamos de ser e o que – de fato – somos.
É importante ter como meta o aprimoramento pessoal. Seja no campo moral, no comportamental, é desejável que se busque a cada dia ser um pouco melhor que o dia anterior. Mas até que ponto podemos melhorar?

O tímido pode realmente se tornar uma pessoa extrovertida, capaz de conversar com desconhecidos com desenvoltura, se aproximar do sexo oposto sem qualquer receio... O mal caráter pode, de verdade, ser corrigido? Pode se tornar uma pessoa capaz de viver em sociedade sem procurar tirar vantagem do próximo? Pode o ser humano realmente mudar? Não sei. Não escrevo esse texto pra ajudar ninguém, estou aqui mais pra confundir que pra explicar.

O homem, no que tange suas capacidades científicas, de criar, recriar e desenvolver, tem se aprimorado dia a dia. Aquilo que chamamos de progresso na da mais é que a prova viva da capacidade que o homem tem modificar o meio em que está inserido para que este esteja adaptado às suas características.

Mas não é desse tipo de progresso, ou mudança, que faço aqui. O que está sendo abordado nessa postagem é algo mais intimista, mais pessoal, que envolve a relação não do homem para com o seu meio, mas dos homens entre si. Da capacidade do ser humano em viver em sociedade de maneira cooperativa, sem deixar de lado um dos nossos traços mais marcantes: a competição.

Buscar o melhor pra si, sem prejudicar o próximo é um dos estágios mais avançados que uma civilização pode alcançar. Obviamente estamos longe, muito longe de qualquer patamar que se aproxime desse ideal. De qualquer forma, é confortável pensar que estamos, talvez, caminhando nesse sentido. Só que se a ignorância é a mãe da felicidade, esse conforto não lá muito bem embasado.

Pessoalmente tenho a impressão de errar hoje mais do que eu errava quando era mais novo. Não sei se é a percepção do que é certe e do que é errado que ficou mais apurada ou se, de fato, eu estou num processo regressivo. De qualquer forma tenho pagado o preço desses erros. O que nunca é agradável. Então, respondendo a pergunta levantada aqui, se estamos ou não evoluindo: não sei.

Não tenho a mínima idéia. Aliás, mesmo se tivesse, jamais teria a pretensão de responder por seis bilhões de pessoas Agora respondendo por mim, eu acho que não. Queria estar caminhando em direção ao tal do nirvana, mas não estou não. Além de cometer os mesmos erros over and over and over, tenho encontrado novas falhas pessoais que antes não fazia idéia que existiam.

De qualquer forma, o fato de eu sofrer um bocado com isso seja um sinal positivo. Sei lá.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A maior volta por cima da história do esporte


Não, não estou falando de Ronaldo e suas idas e vindas com o sucesso e o bom futebol. Também não estou falando da Maurren Maggi e sua fantástica medalha de ouro nas olimpíadas de verão do ano passado. O brasileiro aqui em questão se chama Hélio Castroneves e venceu hoje, pela terceira vez, a mais tradicional prova do automobilismo de todo o mundo: as 500 Milhas de Indianápolis.

Há cerca de 3 meses Hélio, que é natural de Ribeirão Preto, sua irmã e seu advogado eram julgados nos Estados Unidos por 7 crimes de, entre outras coisas, evasão fiscal, sonegação de imposto, conspiração e crime contra a economia pública. Se fosse considerado culpado em todas as acusações ele poderia pegar trinta e cinco anos de cadeia.

Dá pra imaginar que a vida de um dos pilotos mais famosos nos Estados Unidos ficou de cabeça para baixo. Não só isso, a imprensa, de um modo geral, tanto lá como cá, não hesitou em tomar a posição de juiz e considerá-lo culpado antes que qualquer decisão, de fato, fosse ordenada pelo juiz. Revistas americanas o colocou entre os 10 maiores sonegadores de todos os tempos, ao lado de pessoas como Al Capone.

O dia do julgamento veio e, uma a uma, as acusações foram caindo terra. Hélio foi considerado inocente em todas as acusações. Surpresa para muitos e um renascimento para ele. Foram quase seis meses entre a denúncia e o julgamento. Hélio viveu dias de angústia, dias em que teve que comparecer ao tribunal algemado nas mãos e nos pés. A Penske, sua equipe na Indycar, já o considerava carta fora. Um substituto foi inscrito em seu lugar e o mundo seguiria rodando e Hélio seria esquecido por todos.

Mas o mundo dá voltas e essa foi particularmente espetacular. Hélio, agora inocentado, tomou seu lugar de direito na equipe mais tradicional dos Estados Unidos e chegou com gana de vitória, vem maio e ele grava nada menos que o primeiro tempo na Indy 500. Só que ele é predestinado, dizia que a vitória seria dele, tinha carro pra isso e tinha braço pra isso.

E venceu. Venceu com sobras venceu como só vence que sabe muito bem o que fazer naquelas duas milhas e meia que tem o circuito de Indianápolis. Não foi uma vitória emocionante se considerarmos a corrida em si apenas Hélio era tão superior a todos que nas últimas 20 voltas das 200 no total ele apenas se preocupou em não cometer nenhum erro, visto que seus adversários mais próximos digladiavam entre si.
Foi mais que uma vitória de um piloto em uma corrida. Foi a vitória de um Homem sobre a vida. A vitória de alguém predestinado que não deixou de acreditar que venceria todos os desafios que foram impostos a ele. Mesmo quando ele e sua família eram os únicos que acreditavam em alguma coisa.

Hélio é hoje o mais feliz dos homens e tem todo o mérito de ser. Agora são três vitórias na Indy 500, que somada as outras duas de Emerson Fittipaldi e a de Gil de Ferran,deixa o Brasil com seis triunfos no lendário autódromo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mas isso tem hoje a menor das importâncias.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estação Ferroviária de Araraquara

Injuriado por não ter conseguido mais um emprego e sem saco pra voltar pra república resolvi passar na estação de trem daqui de Araraquara.

Moro nessa cidade a cinco anos e jamais tinha passado por ali. Mesmo sabendo que todo o crescimento dessa região se deveu à construção da Estrada de Ferro Araraquarense, que já foi uma das mais importantes da América, e hoje está resumida a um empilhado de moveis jogados em uma sala, visitados apenas pelo pó, que o tempo, impiedoso como só ele é, insiste jogar cada vez mais no esquecimento a história que cada vez menos pessoas sabem contar.



Mas nem tudo é estrago. A primeira impressão que tive ao chegar ao local foi boa. A faxada está muito bem preservada, é fácil ver que provavelmente passou por algum processo de restauração recente, dando nova vida e brilho à pintura e a toda a arquitetura exterior. O problema mesmo está na parte em que os olhos não vêem, a não ser que você entre por lá.



Permaneci no local por cerca de 40 minutos, tirando fotos, observando os detalhes dos imóveis antigos escondidos em uma sala qualquer, vendo o maquinário férreo ali parado e nesse tempo todo apenas três pessoas estiveram no local além de mim: uma senhora que falava no telefone sem parar algo tão importante quanto meu cardápio do almoço de hoje, um senhor que alinhava seu relógio com o da estação (muito bonito por sinal) e um funcionário da empresa America Latina Logística que conferia os vagões cargueiros que usam os trilhos. Aliás, a ALL parece ser a única entidade que sabe do valor econômico que um transporte férreo tem. Pena que seus interesses na parte história não sejam os mesmos.



Bom, já dentro do recinto, a primeira coisa que realmente me chamou a atenção foi o tal do relógio que fornecia às horas ao senhor supracitado. É um relógio muito bem preservado, provavelmente do início do século com os números em algarismo romanos, ponteiros meio góticos mas de uma aparência bastante clássica de um modo geral. Redondo, com as extremidades de ferro. Você provavelmente já viu vários desse tipo em filmes americanos... ao vê-lo não pude deixar de me lembrar do filme Back to the Future, daquele famoso relógio que foi vítima de um raio.



Andando mais um pouco pude ter uma visão mais melancólica. Um carrinho daqueles usados para carregar as malas mais pesadas estava jogado num canto mal tratado pelo tempo e por todos aqueles que o julgaram inútil. De cor verde, feito de ferro ele tem tentado resistir ao tempo e embora possa ser possível observar algumas ferrugens na parte inferior, diria que ele tem feito um bom trabalho na sua empreitada de resistência. Não sei de época ele é, de coisas antigas eu gosto mais que entendo, mas diria que facilmente ultrapassa os cinqüenta anos de fabricação.



Quando acabava de tirar as fotos desse carrinho um apito forte, agudo, me adentrou os ouvidos, forçando meus olhos na direção de sua origem.

Era um trem cargueiro que lenta e silenciosamente deslizava sua silhueta pelos trilhos. Passaria desapercebido por mim não fosse o sinal sonoro que tinha emitido. Corri para o para-peito como um menino bobo para ver algo fantástico que poucos conseguem perceber. Engraçado que nesse momento eu me senti realmente criança. Lembrei imediatamente da minha infância, do meu ferrorama ganho de Natal que durou não mais que três meses, vitima da minha inconsciência e descaso, logo esquecido em razão de um brinquedo novo qualquer.



O trem do lado esquerdo estava parado, numa manutenção que provavelmente já durava alguns anos e, com alguma certeza, posso afirmar pelo que vi em seus detalhes, que muito dificilmente voltará a ser útil. Temo que seu destino esteja, de algum modo, atrelado ao carrinho de malas de alguns parágrafos atrás, com agravamento de que este trem não parece ser tão resistente às intempéries do clima.

Ao ver esse trem parado eu pude perceber que mais lamentável ainda que seu estado, era a situação do trilho que ele estava colocado. Então pude ter certeza que tanto o destino do trem, quanto o do trilho estavam determinados: a inutilidade pétrea. Não tenho muito o que falar, nem todo meu vocabulário explicaria melhor que a foto abaixo. O mato já tomava conta de tudo, impedindo, mesmo que o trem voltasse a funcionar, que ele saísse dali. Seria necessário um trabalho por demais dispendioso para que qualquer coisa fosse feita nesse sentido.



E assim acabei meu breve passeio à estação de trem da Estrada de Ferro da Araraquarense. Desliguei minha máquina, virei o rosto em direção ao meu carro e segui pra minha casa, já me esquecendo da estação, que ficará lá, esquecida por todos que mal sabem da importância daquilo para a região e para todo o estado de São Paulo. Poderia entrar aqui em detalhes econômicos sobre as milhares vantagens que o transporte de trem tem sobre o rodoviário, tanto de produtos quanto de pessoas, mas deixa isso pra uma outra hora, fiquemos hoje apenas com as lembranças.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Encontros e despedidas


Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero


Em cinco anos de faculdade eu já coloquei os pés nessa rodoviária da foto incontáveis vezes. A primeira vez, ainda me lembro como se fosse hoje de manhã, foi em 2005. Primeira semana de faculdade, finalmente tomando um rumo na vida etc... Hoje, 2009, ainda continuo procurando um rumo na vida, mas a sensação de chegar nesse lugar mudou. A hora de voltar, pra casa, pro falso conforto, pro conhecido, era meu alvo. Hoje luto pra arrumar motivos pra ir embora. Não que Araraquara seja uma cidade perfeita, chega a ser cômico pensar nisso, mas é que num determinado momento da vida qualquer lugar é melhor que a casa dos pais.

Com o passar dos anos andei reparando nas pessoas que freqüentam esse recinto. A heterogeneidade é absurda. O retirante chegando para cortar cana, o executivo indo para a Capital, o estudante chegando com abrigo da faculdade, os velhos indo consultar em algum lugar que prolongue suas vidas... Vários os tipos. Todos com algo em comum: ninguém queria estar ali.

Quem vai já queria ter chegado e quem chegou não vê a hora de ir, ou pra casa ou embora de novo.

Andar em um ônibus e ser levado, sem controle da situação, de um lugar para outro é deveras angustiante. Diferente de viajar em uma moto, com o vento na cara, sendo capaz de decidir cada acelerada e cada freada do caminho, em um ônibus você é refém dos devaneios do motorista que acelera e freia ao seu bel prazer. Nada depende de você, seu trabalho é apenas assistir às placas passando ao lado da estrada.

Acho que a vida é meio assim também. As vezes o que a gente quer é ser o cara da moto, daquela Harley Davidson 42 WLA que queima o asfalto como quer, sem dar satisfação a ninguém. Mas sabemos que a maioria de nós jamais será algo além de um passageiro de ônibus, cuja única opção é escolher a poltrona que irá sentar; resumido a torcer para que o motorista o leve ao destino pre-estabelecido da linha.

Faz parte da vida, nunca as coisas são ideais, mas isso não quer dizer que devamos parar com nossas ilusões. Afinal, enquanto houver Sol...