quinta-feira, 2 de julho de 2009

Um dia feliz


Porque está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

No relógio os ponteiros marcavam quatro da tarde. O vento balançava os galhos das árvores já sem folhas que dançavam de um lado para o outro não negando que o fim de outono e o frio se aproximavam claramente. As ruas estavam mais melancólicas que o normal visto que, apesar de outono, o céu não apresentava o azul característico dessa época do ano em que o tempo fica seco e as nuvens simplesmente desaparecem.

Não, nesse dia o céu estava escuro adiantando a tempestade que vinha do norte, implacável, fazendo com que os milhões de guarda-chuvas se abrissem no centro da cidade, deixando tudo preto quando visto de cima.

Eu, que vinha do meu cursinho como qualquer outro dia, havia sido pego de surpresa pela tempestade e me abrigara em uma cafeteria de qualidade duvidosa, com piso feito de tacos de madeira velha e paredes quebradas mostrando que o tempo não havia sido nada gentil com aquele lugar. Completava o ambiente um cheiro de café feito na hora que me entrava no cérebro fazendo com que cada um dos meus neurônios se embebedasse naquela fragrância. Apenas o cheiro da chuva foi capaz de camuflá-lo. No balcão um senhor de meia idade gordo apenas olhava para fora como se contasse os segundos para que a chuva parasse e todos pudessem sair do seu estabelecimento.

Logo acendi meu Hollywood verde, companheiro de todas as horas, e comecei a observar as pessoas andando de um lado para o outro, assustadas, como se ao invés de chuva, caíssem pedras do céu. Isso tudo durou menos que vinte minutos, mas foi suficiente pra deixar todos agitados naquele fim de tarde de outono.

Assim que a chuva acabou eu percebi que era inútil correr para o ponto de ônibus, pois já o tinha perdido a algum tempo. Então decidi que iria pra casa a pé, chegaria mais tarde que o habitual, mas já naquela época não tinha vontade nenhuma de voltar pra lá. O sol que agora aparecia por entre aquelas nuvens pretas me deu a dica de que a chuva passara de fato. Aquela mistura de cores no céu que brigava entre o avermelhado normal daquela hora e o negro das nuvens chuvosas por algum motivo me fascinou. Essa mistura deixava o horizonte num tom marrom brilhante que, misturado com o reflexo da água da chuva no asfalto completava uma atmosfera meio bucólica me trazendo uma paz estranha e uma vontade de andar o mais devagar possível pra aproveitar cada minuto daquele fim de tarde.

Assim coloquei minha mochila nas costas e fui, a passos de formiga (e sem vontade), em direção a minha casa. No meu mp3 player pré-histórico tocava My Way do Frank Sinatra com uma melodia em saxofone composta por Greg Vail perfeita para aquele momento. Na minha cabeça todo e qualquer pensamento sobre qualquer coisa havia desaparecido, dando lugar a um vazio relaxante. Tudo que eu queria era apreciar aquele momento e torcer para que ele durasse o máximo possível. A felicidade realmente aparece quando a gente menos espera.

Logo meu cigarro acabou, minha música acabou, o cheiro da chuva sumiu, o sol cedeu à noite e eu cheguei em casa. Fazer o que...

Nenhum comentário:

Postar um comentário