quinta-feira, 9 de julho de 2009

Cinco parágrafos antes de dormir



Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...

No começo é chato e estranho. Você não se acostuma, os outros parecem tão mais felizes, tão mais adaptados que você. Tão mais idiotas também. O tempo se arrasta e você faz de tudo para que ele voe... você quer ir embora, mas não dá, ainda não dá. Não vê graça em quase nada, afinal, mudou tudo e tudo foi substituído por coisas piores em todos os sentidos. O conforto não existe mais, o conhecido não existe mais, os seus pequenos caprichos não têm mais lugares. É tudo esquisito, você se pergunta se é isso mesmo que você queria e por diversas vezes a resposta parece ser “não”. Quer voltar ao antes, ao que sempre foi aceitável.

O tempo se arrasta, mas passa. Vai-se um mês, dois, três meses... O que era terrivelmente chato vai ficando normal. Os estranhos passam a não ser tão estranhos assim. O conforto continua não existindo, mas você não sente mais tanta falta. O antes ainda é atraente, mas ele passa a ser tão... normal. Seus caprichos? Alguns somem, outros você acha um lugar bem seu para cultivá-los. Ir embora continua sendo uma opção interessante, mas cada vez menos importante. Os outros ainda parecem excessivamente felizes, mas algumas risadas você já compartilha. Algumas histórias passam a ser suas também. Segue o seco...

...De repente, quando você acorda, percebe que aquilo se tornou parte de você. Continua sendo uma bagunça sem fim, continua sendo estupidamente esquisito pra quem vê de fora. Mas você já não está mais vendo de fora, não é mais o mesmo e compartilha muitas daquelas esquisitices. Conforto...? Pra quê? Troquei ele pela minha liberdade. Caprichos? Algum ainda se cultiva, os outros não passavam de mimos inúteis que não têm mais lugar no seu novo modo der ser. O que era chato passa a ser maravilhosamente gostoso. O tempo voa, mas você faz de tudo pra que ele se arraste segundo a segundo. Você se sente parte daquilo. Não se vê mais longe daquela estranheza toda, daquela gente diferente.

Os meses passam, os anos passam. O fim se aproxima e a sensação de que você jamais vai ser o mesmo aumenta dia a dia. Você queria voltar e começar tudo de novo. Mais uma risada, mais uma ressaca, mais uma refeição ruim. Queria ter aproveitado mais, você diz. Mas o tempo não volta, infelizmente não volta. Você se sente um idiota por ter questionado, no começo, se tudo valia a pena. Percebe que aquilo ali moldou sua personalidade de modo irreversível. Você cresceu, viu que nem tudo é do seu jeito. Nem todos são iguais e que a graça está em conviver com cada diferença e aceitar e entender que elas são estranhas pra você do mesmo modo que as suas são estranhas pra os outros. No fim você fica feliz por ter vivido aquilo tudo...

...vida em república.

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