domingo, 14 de junho de 2009

Ruim mas nem tanto...

(Quem canta escreve seus males espanta). Antes de tudo, saibam que eu sou PTista. Votei no Lula nas duas eleições, votei em veradores do PT, votei no Suplicy e vou votar na Dilma. Então, se quer ler algo parcial vá a outro lugar. Se quer ler algo pró-Demo, vá ler a Veja ou a Folha e se não quiser ler nada, vá planar batatas. Quincas Borba te espera.

Bom, vamos lá.

A gestão econômica do governo Lula tem sido exemplar em muitos aspectos. Com exceção de 2009, em virtude da maior crise do capitalismo desde 1929, o Brasil passou por um momento raro de alto crescimento, distribuição de renda e baixa inflação. Parafraseando Lula, “nunca antes na história desse país” o Brasil viveu anos de um crescimento tão sólido em suas bases mais fundamentais. O crescimento da época do milagre brasileiro não serve de parâmetro porque foi todo fundamentado em empréstimos internacionais que foram por terra na primeira grande crise do petróleo, em meados da década de 1970. Além disso, a tese de “fazer o bolo crescer para depois dividir” se mostrou no longo prazo tão lamentável que é hoje uma cartilha de tudo que não se deve fazer em termos de distribuição de renda e crescimento sustentável. O Brasil sempre foi um país muito desigual em suas divisões de classe, mas boa parte dessa trágica desigualdade se firmou nesses anos de milagres e falácias.

Enfim, mas não estamos mais em épocas de vacas gordas. A crise dos subprimes chegou e arrastou o mundo inteiro com ela. O Brasil junto. Oficialmente estamos em uma recessão técnica visto que o PIB diminuiu por dois trimestres seguidos, logo, na teoria, não teríamos motivos para comemorar nada. Mas não é bem assim. A diferença fundamental dessa crise para outras, como a dos Tigres Asiáticos, no fim dos anos noventa e tantas outras, é que o país tem dessa vez uma base econômica muito mais sólida e preparada para enfrentar a turbulência. Assim, não é de se admirar que fomos um dos últimos países a ser afetado pela crise e poderemos ser um dos primeiros a sair dela.

Claro que muito disso se deve a uma característica interessante do atual perrengue econômico: a crise atual tem como centro países de primeiro mundo como os EUA e não periféricos como a já citada crise dos Tigres Asiáticos ou a do México ocorrida em 94. Ainda assim, é surpreendente que diante de tamanho problema o Brasil não tenha quebrado. Aliás, não só não quebrou, como não ocorreu duas das mais sintomáticas táticas necessárias ao país em épocas assim: não pedimos dinheiro ao FMI e não tivemos que elevar os juros da Taxa Selic aos céus, como sempre vinha ocorrendo em momentos dessa natureza. Pelo contrário, aliás, pelo contrário mesmo.

Foram esses dois últimos fatos que me fizeram decidir por esse assunto para postagem. Em 1999, quando a crise dos Tigres Asiáticos estourou o país teve que desatrelar o real ao dólar e correr para o FMI para pedir dinheiro emprestado porque simplesmente, caso contrário, quebraria. Não teríamos dinheiro para honrar com as dívidas que venceriam no fim do ano e a alternativa seria o calote, que é muito mais lamentável que pedir dinheiro ao fundo monetário. Como resultado, por ordens do FMI, o Brasil teve que aumentar o arrocho econômico, gerando um crescimento ainda mais ínfimo da economia que o de costume.

Além disso, outra tática básica para países desesperados em épocas de complicações econômicas é aumentar a taxa de juros básicos (que no Brasil se chama Selic) às alturas, a fim de tornar os títulos da dívida pública mais atraentes, impedindo, portanto, uma fuga de capitais ainda maior que o habitual em tempos bicudos. Isso tem dois problemas básicos: com a taxa Selic nas alturas os juros que o Brasil paga para quitar suas dívidas sobem mais ainda, além disso se torna mais rentável para investidores estrangeiros investir na nossa dívida (que paga juros absurdos) que colocar dinheiro em empresas com capital na bolsa, que no fim das contas, são as que geram empregos e renda ao país. Além de se tornar quase inviável conseguir créditos em instituições financeiras. Enfim, é um ciclo vicioso de baixo crescimento, baixo investimento e alto endividamento cujo fim é um só: estagnação econômica e desemprego generalizado.

Só que não foi isso que aconteceu dessa vez. Na semana passada dois eventos passaram despercebidos pelo grande público que mostram a solidez da economia brasileira atualmente: não só não devemos mais nada ao FMI (fato que já vinha acontecendo desde o ano passado), como nos demos ao luxo de emprestar cerca de 10 bilhões de dólares ao fundo. Isso mesmo, depois de mais de 15 anos pagando juros ao fundo, hoje somos credores dele. Outra coisa que “nunca tinha acontecido antes na história desse país” é que os juros da Selic caíram para a casa de um dígito, mais especificamente, 9,5% ao ano. Para efeito de comparação, no começo do mandato do Lula essa mesma taxa estava na casa dos 30% e o Brasil devia ao FMI cerca de 15 bilhões de dólares. É robustez econômica pra Veja nenhuma botar defeito.

Detalhes como esse mostram que, ao menos no campo econômico, o governo do PT tem sido de uma felicidade ímpar. Obviamente que não estamos imunes aos efeitos da crise e 2009 tem tudo pra ser um ano difícil. Por outro lado, desde que as coisas continuem a caminhar nesse ritmo, as chances de sairmos mais fortes e de estarmos mais preparados para um novo ciclo de crescimento são grandes. Para isso é preciso que o Estado tome as rédeas dos investimentos e caminhe com um re-aparelhamento da nossa infra-estrutura, se faz necessário, mais do que nunca, cortar gastos de custeio que nada acrescentam ao país e fazer caminhar com as reformas estruturai que emperram um crescimento mais contínuo do Brasil. É hora de colocar os ensinamentos de John Keynes em prática. Se a iniciativa privada corta gastos, é hora de o Estado abrir os cofres, mas não gastar por gastar, é hora de fazer investimentos, é hora de gastar onde os dividendos sejam colhidos quando o próximo ciclo de crescimento, inerente ao capitalismo, começar.

Veremos...

2 comentários:

  1. Não há como negar que a política economica utlizada pelo governo petista tem surtido efeitos positivos nos últimos 6 anos.
    Mas tambem não da pra negar q o nosso atual governo deixa a desejar e muito na área política, um presidente tolerante e permissivo com as coisas erradas. O fato de a corrupção sempre existir não quer dizer que a gente tenha de apoiar e fazer vista grossa.
    Os petista hojr no setor publico usam e abusam dos recursos públicos e da estrutura do poder para cometer irregularidades.
    Enfim acho q uma pessoa um tanto despolitizada como eu, infelizmente, consiga enxerga mais erros q acertos.
    Eee apesar de não gostar de todos os assuntos e ate do nome de seu blogspot, gosto de tudo que escreve.

    ResponderExcluir
  2. Post muito oportuno. Há um certo tempo vi um documentário chamado "Muito Além do Cidadão Kane", ele diz respeito a Rede Globo, mas nos traz inúmeras informações de relevância ímpar sobre o FMI. Fica a dica, vale a pena assistir.
    Blog muito interessante e inteligente. Estou te seguindo no Twitter para ficar ligado nas atualizações. Havendo tempo de uma passada no meu: http://thewriterbr.blogspot.com/
    Twitter: @TheWriterBr
    Abraço.

    ResponderExcluir