quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estação Ferroviária de Araraquara

Injuriado por não ter conseguido mais um emprego e sem saco pra voltar pra república resolvi passar na estação de trem daqui de Araraquara.

Moro nessa cidade a cinco anos e jamais tinha passado por ali. Mesmo sabendo que todo o crescimento dessa região se deveu à construção da Estrada de Ferro Araraquarense, que já foi uma das mais importantes da América, e hoje está resumida a um empilhado de moveis jogados em uma sala, visitados apenas pelo pó, que o tempo, impiedoso como só ele é, insiste jogar cada vez mais no esquecimento a história que cada vez menos pessoas sabem contar.



Mas nem tudo é estrago. A primeira impressão que tive ao chegar ao local foi boa. A faxada está muito bem preservada, é fácil ver que provavelmente passou por algum processo de restauração recente, dando nova vida e brilho à pintura e a toda a arquitetura exterior. O problema mesmo está na parte em que os olhos não vêem, a não ser que você entre por lá.



Permaneci no local por cerca de 40 minutos, tirando fotos, observando os detalhes dos imóveis antigos escondidos em uma sala qualquer, vendo o maquinário férreo ali parado e nesse tempo todo apenas três pessoas estiveram no local além de mim: uma senhora que falava no telefone sem parar algo tão importante quanto meu cardápio do almoço de hoje, um senhor que alinhava seu relógio com o da estação (muito bonito por sinal) e um funcionário da empresa America Latina Logística que conferia os vagões cargueiros que usam os trilhos. Aliás, a ALL parece ser a única entidade que sabe do valor econômico que um transporte férreo tem. Pena que seus interesses na parte história não sejam os mesmos.



Bom, já dentro do recinto, a primeira coisa que realmente me chamou a atenção foi o tal do relógio que fornecia às horas ao senhor supracitado. É um relógio muito bem preservado, provavelmente do início do século com os números em algarismo romanos, ponteiros meio góticos mas de uma aparência bastante clássica de um modo geral. Redondo, com as extremidades de ferro. Você provavelmente já viu vários desse tipo em filmes americanos... ao vê-lo não pude deixar de me lembrar do filme Back to the Future, daquele famoso relógio que foi vítima de um raio.



Andando mais um pouco pude ter uma visão mais melancólica. Um carrinho daqueles usados para carregar as malas mais pesadas estava jogado num canto mal tratado pelo tempo e por todos aqueles que o julgaram inútil. De cor verde, feito de ferro ele tem tentado resistir ao tempo e embora possa ser possível observar algumas ferrugens na parte inferior, diria que ele tem feito um bom trabalho na sua empreitada de resistência. Não sei de época ele é, de coisas antigas eu gosto mais que entendo, mas diria que facilmente ultrapassa os cinqüenta anos de fabricação.



Quando acabava de tirar as fotos desse carrinho um apito forte, agudo, me adentrou os ouvidos, forçando meus olhos na direção de sua origem.

Era um trem cargueiro que lenta e silenciosamente deslizava sua silhueta pelos trilhos. Passaria desapercebido por mim não fosse o sinal sonoro que tinha emitido. Corri para o para-peito como um menino bobo para ver algo fantástico que poucos conseguem perceber. Engraçado que nesse momento eu me senti realmente criança. Lembrei imediatamente da minha infância, do meu ferrorama ganho de Natal que durou não mais que três meses, vitima da minha inconsciência e descaso, logo esquecido em razão de um brinquedo novo qualquer.



O trem do lado esquerdo estava parado, numa manutenção que provavelmente já durava alguns anos e, com alguma certeza, posso afirmar pelo que vi em seus detalhes, que muito dificilmente voltará a ser útil. Temo que seu destino esteja, de algum modo, atrelado ao carrinho de malas de alguns parágrafos atrás, com agravamento de que este trem não parece ser tão resistente às intempéries do clima.

Ao ver esse trem parado eu pude perceber que mais lamentável ainda que seu estado, era a situação do trilho que ele estava colocado. Então pude ter certeza que tanto o destino do trem, quanto o do trilho estavam determinados: a inutilidade pétrea. Não tenho muito o que falar, nem todo meu vocabulário explicaria melhor que a foto abaixo. O mato já tomava conta de tudo, impedindo, mesmo que o trem voltasse a funcionar, que ele saísse dali. Seria necessário um trabalho por demais dispendioso para que qualquer coisa fosse feita nesse sentido.



E assim acabei meu breve passeio à estação de trem da Estrada de Ferro da Araraquarense. Desliguei minha máquina, virei o rosto em direção ao meu carro e segui pra minha casa, já me esquecendo da estação, que ficará lá, esquecida por todos que mal sabem da importância daquilo para a região e para todo o estado de São Paulo. Poderia entrar aqui em detalhes econômicos sobre as milhares vantagens que o transporte de trem tem sobre o rodoviário, tanto de produtos quanto de pessoas, mas deixa isso pra uma outra hora, fiquemos hoje apenas com as lembranças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário